Estudos Bíblicos

A Necessidade de uma Base Bíblica: Princípios Teológicos na Batalha Espiritual

A melhor maneira de abordar assuntos polêmicos é situá-los dentro de seus contextos mais amplos. Ao ter uma visão abrangente, podemos entender com maior precisão suas partes. Por exemplo, alguém que tenta encontrar um endereço em uma cidade apenas procurando pelas placas com os nomes das ruas pode acabar desorientado e perdido.

No entanto, se essa pessoa tiver um mapa, que oferece uma visão mais ampla da área em que se encontra e mostra as conexões entre as ruas, será mais fácil encontrar seu destino. Da mesma forma, ao contextualizarmos o tema do confronto da Igreja com as hostes das trevas em um panorama mais amplo e percebermos suas interligações com outras áreas teológicas, podemos compreendê-lo melhor.

Em termos do conhecimento teológico global, esse assunto não pertence a uma única área. Quando falamos sobre a polêmica entre salvação pela fé e/ou pelas obras, facilmente identificamos que o assunto pertence à área da soteriologia, o estudo da salvação, uma disciplina da teologia. Ao ter uma boa compreensão dos princípios e fundamentos que orientam a soteriologia, podemos compreender com mais facilidade tudo o que está envolvido nessa polêmica.

No entanto, a luta entre a Igreja e Satanás não se enquadra apenas em uma área específica, embora a demonologia bíblica, que faz parte da angelologia (o estudo dos anjos bons e maus), seja certamente a área mais relevante. O fato é que os ensinamentos e práticas da "batalha espiritual" levantam questões sérias relacionadas a diversas áreas do nosso conhecimento de Deus.

Quando alguns defensores desse movimento falam de Satanás como se ele fosse um poder independente, autônomo e livre para causar o mal neste mundo, estão indiretamente entrando na área que trata dos decretos de Deus e da Sua maneira de governar o mundo. Além disso, quando revelam possuir informações além das Escrituras sobre o mundo invisível dos anjos e demônios – como por exemplo, nomes específicos de demônios e os locais geográficos onde supostamente habitam – estão adentrando na epistemologia, a teoria do conhecimento. Essa área trata de como conhecemos as coisas ao nosso redor, incluindo o acesso humano ao conhecimento do mundo espiritual invisível, onde seres espirituais como anjos e demônios habitam e atuam.

Da mesma forma, quando todo tipo de mal existente no mundo, seja moral ou circunstancial (como doenças, dores, desemprego, etc.), é atribuído aos demônios, surge novamente a antiga discussão sobre a origem dos males e sofrimentos neste mundo presente. E quando se afirma que os cristãos podem ser possuídos por um espírito maligno (ou ficar "demonizados", para usar um termo mais comum), retornamos à soteriologia – ou seja, à situação dos salvos diante dos ataques dos demônios – e também adentramos na cristologia, questionando a relação entre a obra vitoriosa e consumada de Cristo e a atividade satânica no presente.

Ao procurarmos entender os conceitos da "batalha espiritual" com base em princípios gerais que regem as diversas áreas abrangidas pelo tema, podemos estabelecer alguns trilhos pelos quais podemos conduzir a discussão. A seguir, analisarei quatro desses princípios que são de fundamental importância para o assunto: a soberania de Deus, a suficiência das Escrituras, a queda da raça humana e a suficiência da obra de Cristo. Acredito que, se os leitores compreenderem adequadamente esses princípios, eles servirão como guias seguros para prosseguirem com maior confiança no conflito diário que enfrentamos contra as hostes espirituais da maldade.

1. A Soberania de Deus:

Quando se trata da "batalha espiritual", é essencial entender a soberania de Deus sobre todas as coisas, inclusive os poderes espirituais. A doutrina da soberania divina afirma que Deus é onipotente e governa o universo de acordo com Seu plano perfeito. Nada acontece sem que Ele permita ou saiba. Portanto, ao discutir sobre a atuação de Satanás e dos demônios, devemos reconhecer que estão subordinados à vontade suprema de Deus.

2. A Suficiência das Escrituras:

As Escrituras são a fonte máxima de revelação divina. Devemos nos ater ao que está escrito na Bíblia para compreendermos a realidade espiritual. A busca por informações além do que foi revelado nas Escrituras pode levar a especulações e desvios perigosos da verdade. É importante lembrar que a Bíblia nos fornece tudo o que precisamos para viver piedosamente e enfrentar as batalhas espirituais.

3. A Queda da Raça Humana:

A origem do mal no mundo está relacionada à queda da raça humana. A desobediência de Adão e Eva resultou na entrada do pecado no mundo, abrindo portas para a atuação maligna. A "batalha espiritual" é, em parte, uma consequência desse cenário de separação entre Deus e a humanidade, mas também demonstra a vitória de Cristo sobre o pecado e o maligno.

4. A Suficiência da Obra de Cristo:

A obra redentora de Cristo na cruz é suficiente para a salvação e para nos proteger nas lutas contra as hostes espirituais. Sua vitória sobre Satanás e a morte nos garante esperança e confiança em meio aos embates espirituais cotidianos. Ao nos apegarmos à suficiência da obra de Cristo, encontramos segurança e fortaleza para enfrentarmos as investidas do maligno.

Conclusão:

A "batalha espiritual" é um tema complexo, que abrange diversas áreas teológicas. Ao contextualizá-lo adequadamente e compreender seus princípios fundamentais, podemos enfrentá-lo com maior confiança e discernimento. Devemos lembrar sempre da soberania de Deus, buscar a suficiência das Escrituras, entender a queda da raça humana e descansar na suficiência da obra de Cristo. Somente assim estaremos preparados para enfrentar as hostes espirituais da maldade e vivermos uma vida piedosa, de acordo com a vontade de Deus. Que essa compreensão nos guie e fortaleça em nossa jornada espiritual.