Batalha Espiritual: Entendendo o Conflito Espiritual

Batalha Espiritual: Entendendo o Conflito Espiritual
Photo by Rachel Coyne / Unsplash

As igrejas históricas em todo o mundo têm enfrentado desafios nas últimas três décadas para responder às ênfases de um movimento interno conhecido como "movimento de 'batalha espiritual'". Essa expressão já nos remete ao cerne do assunto: trata-se de um movimento que coloca o foco principal na luta da Igreja de Cristo contra Satanás e seus demônios, um conflito de natureza espiritual que envolve métodos, armas, estratégias e objetivos.

A Crescente Busca pelo Sobrenatural

Esse crescente interesse nos círculos evangélicos por Satanás, demônios, espíritos malignos e o misterioso mundo dos anjos está em sintonia com o atual surto de misticismo, um interesse cada vez maior no mundo contemporâneo pelos anjos, tanto bons quanto maus, e também pelo ocultismo.

No entanto, essa busca pelo miraculoso e sobrenatural tem se manifestado não apenas no mundo, mas também dentro da própria igreja cristã, seguindo a tendência do neopentecostalismo. Quando falo de neopentecostalismo, refiro-me aos movimentos surgidos nas últimas décadas como derivações do pentecostalismo clássico do início do século, mas que abandonaram algumas de suas ênfases características e adquiriram suas próprias peculiaridades, como a ênfase em revelações diretas, curas, batalha espiritual e, sobretudo, uma forma específica de compreender a realidade espiritual.

O Neopentecostalismo e a Hermenêutica Sobrenaturalista

Esse movimento se caracteriza por interpretar as Escrituras e a realidade sempre em termos da ação sobrenatural de Deus. Deus é percebido apenas no contexto de Sua ação extraordinária. Assim, para o neopentecostal típico, Deus guia a vida cotidiana por meio de impulsos, sonhos, visões, palavras proféticas e provê soluções miraculosas para os problemas, como libertações, livramentos, exorcismos e curas.

A doutrina que caracteriza, mais do que qualquer outra, as igrejas evangélicas no Brasil hoje, é a crença em milagres. É importante ressaltar que não estou dizendo que acreditar em milagres seja errado. O que quero destacar é que quando a crença em milagres contemporâneos e diários se torna a característica central da igreja evangélica, algo está fora do lugar.

O Desafio para a Tradição Reformada

A hermenêutica sobrenaturalista do neopentecostalismo apresenta um desafio para uma das doutrinas típicas da tradição reformada, que é a providência de Deus. Baseando-se nas Escrituras, os reformados utilizam o termo "providência" para se referir à ação de Deus, por meio de Seu Espírito, atuando no mundo por meio de pessoas e circunstâncias da vida para alcançar Seus propósitos. Esses meios não são intervenções miraculosas ou extraordinárias de Deus na vida humana, mas sim meios naturais secundários. Os calvinistas reconhecem que Deus intervém milagrosamente neste mundo, mas sempre em circunstâncias excepcionais. Normalmente, Ele age por meio de meios naturais.

Ao enfatizar a ação sobrenatural e miraculosa de Deus no mundo (o que não negamos), o neopentecostalismo acaba negligenciando a importância da operação do Espírito Santo por meio de meios secundários e naturais. Essa negligência se torna mais grave quando consideramos que o Espírito Santo geralmente age por meio desses meios para salvar os pecadores.

A Visão Distorcida da Realidade Espiritual

Acredito que não seja difícil comprovar que a esmagadora maioria dos cristãos foi salva por meio de meios naturais, como o testemunho de alguém, a leitura da Bíblia e a pregação da Palavra, e não por meio de intervenções miraculosas e extraordinárias, como foi o caso da conversão de Paulo.

Como resultado do sobrenaturalismo neopentecostal, as igrejas reformadas afetadas por esse movimento tendem a considerar os meios naturais como espiritualmente inferiores. Um exemplo disso é a tendência de associar o ato de tomar remédios à falta de fé por parte de um crente doente. Outro resultado é a diminuição da pregação do Evangelho como meio de salvação dos pecadores, enfatizando-se, em seu lugar, realizações como meio evangelístico. Assim, a obra do Espírito Santo na Igreja e no mundo, por meio de meios naturais secundários, é negligenciada, com efeitos graves e prejudiciais na vida daqueles que abraçam a cosmovisão neopentecostal.

Reflexões sobre o Movimento de Batalha Espiritual

As consequências dessa visão da realidade espiritual são significativas no contexto do conflito da igreja contra as hostes das trevas, pois ela concebe esse conflito apenas em termos do sobrenatural, negligenciando o ensino bíblico de que Satanás busca atingir a Igreja de Cristo por meio da carne e do mundo, meios que não são necessariamente sobrenaturais.

Embora devamos dar as boas-vindas a todo e qualquer movimento na Igreja que nos ajude a nos preparar melhor para enfrentar os ataques malignos contra a Igreja, esse movimento polêmico tem gerado sérias preocupações para pastores, estudiosos e líderes evangélicos em todo o mundo, não apenas para as igrejas evangélicas históricas, mas também para as igrejas pentecostais clássicas. Até mesmo organizações internacionais, como o Comitê de Lausanne para a Evangelização Mundial, expressaram preocupações com os ensinamentos desse movimento em uma declaração de seu Grupo de Trabalho, feita em 1993, em Londres.

Princípios Bíblicos para Orientação

Existem várias razões para essa preocupação. Uma delas é que o movimento, ao conquistar a adesão de pastores e comunidades, tem gerado um tipo de cristianismo no qual a atividade satânica se tornou o foco central e, em alguns casos, a própria razão de existir desses ministérios e igrejas. Embora as doutrinas fundamentais da fé cristã geralmente não sejam negadas (com algumas exceções), elas são frequentemente relegadas a um plano secundário, desaparecendo do ensino e da liturgia.

O resultado é um cristianismo distorcido, deformado, no qual doutrinas como a salvação pela fé somente, por meio do sacrifício redentor, único e expiatório de Cristo, a doutrina da pessoa de Cristo, Sua mediação e ofícios, e doutrinas como a queda, a depravação do homem e a santificação progressiva por meio dos meios da graça são negligenciadas. Não estou afirmando que essas igrejas e os defensores desse movimento neguem necessariamente esses pontos, mas certamente não lhes dão a ênfase necessária e devida, que é conferida pelas próprias Escrituras.

Conclusão

O movimento de "batalha espiritual" tem resultado no surgimento de novas igrejas (e até mesmo denominações) cujo ministério principal é a expulsão de demônios e a "libertação" de crentes e descrentes da opressão demoníaca em todos os níveis (espiritual, moral, físico, geográfico, estrutural e social). Além disso, as ideias e práticas difundidas por esse movimento têm se infiltrado nas igrejas históricas, atraindo muitos de seus pastores, líderes e membros.

Neste estudo, procuramos apresentar alguns princípios bíblicos pelos quais os evangélicos em geral, e os presbiterianos em particular, podem orientar sua compreensão sobre esse tema tão atual e polêmico. É fundamental manter o equilíbrio entre a busca pelo sobrenatural e a compreensão da atuação de Deus por meio dos meios naturais, respeitando as doutrinas fundamentais da fé cristã e buscando uma abordagem sólida e embasada na Palavra de Deus.

Recomendações

Pague uma única vez e tenha mais de 3000 canais para a vida inteira !

Descubra o segredo dos homens mais ricos e poderosos do mundo!