Filosofia e Teologia: Quem Criou Deus?

Filosofia e Teologia: Quem Criou Deus?
Photo by Joshua Sortino / Unsplash

A questão sobre a origem de Deus é uma discussão antiga e complexa que envolve filosofia, teologia e ciência. Muitos se perguntam, "Se o universo tem um criador, quem criou o criador?" Este artigo aborda essa questão a partir de uma perspectiva filosófica e teológica, baseada em uma palestra realizada na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A Pergunta Filosoficamente Equivocada

Durante a palestra, um filósofo perguntou ao palestrante, "Quem criou Deus?" Segundo o palestrante, essa é uma pergunta filosoficamente equivocada. A filosofia clássica, desde Parmênides na Grécia antiga, passa pela tradução latina "ex nihilo, nihil fit" (do nada, nada se faz), sugere que algo sempre existiu. Isso se refere à ideia de que algo deve ter precedido a criação do universo, pois do nada, nada pode surgir.

O Início do Universo e o Big Bang

O Big Bang é uma teoria amplamente aceita que descreve o início do universo a partir de um ponto singular, onde todas as leis físicas conhecidas deixam de existir. Antes desse ponto, não havia tempo, espaço ou matéria — havia o "nada absoluto". A partir dessa perspectiva, a pergunta sobre a origem de Deus se torna mais uma questão de filosofia do que de ciência.

Características da Causa Primeira

Para algo existir antes do Big Bang, deve possuir certas características:

  • Atemporal: Deve existir fora do tempo, pois o tempo começou com o Big Bang.
  • Espacialmente independente: Deve existir fora do espaço, pois o espaço também começou com o Big Bang.
  • Eterno: Não pode ter um começo, já que causou o início de tudo.
  • Dotado de vontade e inteligência: Deve ter a capacidade de iniciar e planejar a criação do universo.

Estas características são frequentemente atribuídas ao conceito de Deus nas tradições monoteístas. Essa causa primeira é aquilo que Aristóteles chamou de "Primeiro Motor Imóvel" e que muitos identificam com Deus.

A Ciência e a Filosofia

A ciência moderna, através do método científico, busca compreender o universo por meio de observação, experimentação e falsificação. No entanto, a questão da origem do universo e o que precede o Big Bang permanece fora do alcance da verificação empírica direta. Portanto, muitas dessas questões caem no domínio da filosofia e da teologia.

O Papel da Causa Primeira

Há três possíveis explicações para a existência do universo:

  1. O universo surgiu do nada: Uma hipótese que muitos consideram cientificamente insustentável.
  2. Um ciclo infinito de causas: Uma regressão infinita que também parece ilógica.
  3. Uma causa primeira: Uma causa inicial que não foi causada por nada, que se alinha com a ideia de Deus.

A Natureza de Deus

Muitos questionam por que um ser tão poderoso se preocuparia com a humanidade. A resposta pode ser encontrada no conceito de "imago Dei" (imagem de Deus). De acordo com a teologia cristã, Deus criou os humanos à sua imagem e semelhança, dotando-os de atributos que refletem parcialmente sua natureza divina. Isso inclui a capacidade de amar, criar e buscar o significado da vida.

A Experiência Humana do Divino

Os sentimentos humanos, como o amor de um pai por seus filhos, são reflexos do amor de Deus pela humanidade. Esta analogia ajuda a compreender a relação entre Deus e o ser humano. Mesmo que não possamos explicar plenamente o amor e a existência de Deus, podemos experimentar e refletir sobre eles.

O Paradoxo de Deus

A Bíblia apresenta Deus como um ser paradoxal: onipresente, mas capaz de permitir a ausência de sua presença em certas circunstâncias. Este paradoxo não é uma contradição, mas uma coexistência de características aparentemente opostas, que também encontramos em fenômenos da física quântica.

A Busca pelo Sagrado

Independente de crenças individuais, existe uma busca universal pelo sagrado, uma necessidade intrínseca de encontrar propósito e significado. Essa busca pode ser vista como um reflexo do desejo humano de conexão com o divino.

Conclusão

A questão "Quem criou Deus?" é uma porta de entrada para uma discussão mais ampla sobre a natureza do universo, a origem da vida e o propósito da existência. A resposta não está apenas nos livros de ciência, mas também na filosofia e na teologia, áreas que oferecem perspectivas complementares sobre o mistério da existência. Assim, a busca pelo conhecimento continua, movida pela curiosidade humana e pela necessidade de compreender nosso lugar no cosmos.

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