O Verdadeiro Estado da Humanidade e a Batalha Espiritual
No âmbito da discussão sobre a "batalha espiritual", é crucial lembrarmos do verdadeiro estado da humanidade diante de Deus para colocar o assunto em perspectiva adequada. Uma visão correta sobre os efeitos do pecado na natureza humana e a posição do homem perante Deus é fundamental para combater uma demonologia defeituosa e inadequada, como a adotada pelo movimento moderno de "batalha espiritual". Em suma, falta uma compreensão bíblica de que o homem é um ser moral e espiritualmente decaído e sob o justo juízo divino.
Durante a Reforma Protestante, houve um debate significativo sobre a natureza e a extensão do pecado original. Ele afetou apenas Adão ou toda a humanidade? A vontade do homem decaído ainda é livre ou escravizada ao pecado? No século V, Pelágio debateu acaloradamente com Agostinho sobre esse assunto.
Agostinho afirmava que o pecado original de Adão foi herdado por toda a humanidade e que, embora o homem caído ainda possua a capacidade de escolha, ele está escravizado ao pecado e "não pode deixar de pecar". Por outro lado, Pelágio insistia que a queda de Adão afetava apenas a ele e que, se Deus exige que as pessoas vivam vidas perfeitas, Ele também concede a elas a capacidade moral de fazê-lo. Ele argumentava ainda que a graça divina era desnecessária para a salvação, embora pudesse facilitar a obediência.
Agostinho foi bem-sucedido ao refutar Pelágio, mas o pelagianismo não desapareceu. Ao longo dos séculos, várias formas de pelagianismo ressurgiram periodicamente. Lutero escreveu um livro chamado "A Escravidão da Vontade" em resposta a uma diatribe de Erasmo, que defendia conceitos pelagianos.
Lutero considerava Erasmo "um inimigo de Deus e da religião cristã" devido ao seu ensinamento sobre o pecado original. Embora nem sempre tenha havido concordância total entre os cristãos, o ensinamento defendido por Agostinho, Calvino, Lutero, puritanos e teólogos reformados mais modernos representou, por muito tempo, o pensamento predominante entre os evangélicos. No entanto, atualmente, conceitos bastante semelhantes aos de Pelágio parecem ter prevalecido amplamente entre os protestantes.
No entanto, a teologia reformada continua afirmando que o pecado de Adão trouxe graves consequências para seus descendentes, sendo as duas principais:
Corrupção da natureza humana
Esse termo refere-se à degeneração, perversão, depravação ou decadência espiritual e moral à qual a raça humana ficou sujeita após o pecado de Adão e Eva, seus primeiros pais. O pecado manchou a personalidade humana de tal forma que o homem está mais inclinado a praticar o mal do que o bem.
O primeiro casal, originalmente criado puro e inocente, já exibiu sinais de corrupção interior após experimentar o pecado. Cada um tentou justificar seu erro, colocando a culpa no outro e até mesmo em Deus. A história de seus descendentes é marcada por violência, poligamia, soberba, vingança e imoralidade.
Embora ainda haja algum bem neste mundo, apenas pela graça de Deus, as pessoas estão constantemente inclinadas a fazer o mal. A descrição feita pelo salmista é assustadora: "Todos se tornaram imorais e fazem coisas horríveis; não há uma só pessoa que faça o bem... todos se desviaram do caminho certo e são igualmente maus. Não há mais ninguém que faça o que é direito, não há ninguém mesmo" (Salmo 14.1-3, BLH). O Senhor Jesus explicou que a verdadeira impureza do homem vem do coração, fonte de todo tipo de impureza moral e espiritual.
Condenação e castigo de Deus
Essa é a segunda consequência da queda que merece destaque. A humanidade não apenas vive em um estado lamentável de depravação espiritual, causando dores a si mesma, mas também está sob o severo juízo de Deus devido ao estado de rebelião em que vive. As Escrituras deixam claro que Deus, embora reserve as penas eternas para os pecadores impenitentes no futuro, já impõe castigos temporais sobre eles no presente.
As Escrituras fornecem inúmeros exemplos dos castigos temporais de Deus sobre o pecado humano, desde os castigos impostos ao primeiro casal no Éden até as punições de desobediência previstas no Antigo Testamento. Deus também utiliza flagelos físicos como instrumentos de castigo. As Escrituras afirmam que Deus castiga os israelitas com várias misérias temporais em caso de desobediência.
O catálogo de sofrimentos em Deuteronômio 28 é impressionante, incluindo diminuição do patrimônio, doenças contagiosas, pragas, secas e muito mais. Portanto, é evidente que, tanto pelos próprios atos pecaminosos quanto pelos juízos divinos, a humanidade experimenta uma grande parte da miséria moral, espiritual, social, individual, financeira e estrutural que a aflige durante sua existência.
É importante ressaltar algumas observações para evitar uma compreensão inadequada desses ensinamentos:
A queda do homem não exclui a presença do bem no mundo:
É importante reconhecer que o ensinamento reformado não nega a presença do bem no mundo. Mesmo após a queda, Deus ainda exerce seu controle soberano sobre a criação e exibe sua graça comum a todas as pessoas. Isso significa que Deus continua a exercer seu cuidado e provisão, permitindo que coisas boas aconteçam, como a preservação da vida, a justiça social, a arte, a ciência e muitas outras manifestações do bem. No entanto, mesmo nesses atos bons, há uma mistura de motivos egoístas e impuros, pois a natureza humana é afetada pelo pecado.
A necessidade da graça divina:
Diante da depravação humana e do justo juízo de Deus, a salvação não pode ser alcançada por esforços humanos ou boas obras. A humanidade não possui a capacidade moral para se justificar diante de Deus. É somente pela graça de Deus que o homem pode ser salvo e reconciliado com Ele. A graça é um presente imerecido, concedido através da obra redentora de Jesus Cristo na cruz. Através da fé em Cristo e do arrependimento dos pecados, os seres humanos podem experimentar a salvação e a transformação de suas vidas pela graça divina.
Ao considerar a batalha espiritual, é essencial manter essa perspectiva correta da condição humana. Não podemos subestimar o poder do pecado e seus efeitos sobre nós. Ao mesmo tempo, não devemos subestimar o poder da graça de Deus em nos libertar do pecado e nos capacitar para a batalha espiritual. A vitória não depende de nossos próprios esforços, mas da obra de Cristo em nós e da habitação do Espírito Santo.
Portanto, ao discutir a batalha espiritual e a atuação dos poderes malignos, devemos lembrar que nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra forças espirituais do mal (Efésios 6:12). Devemos confiar na autoridade e no poder de Cristo, buscando uma vida de intimidade com Ele, praticando a oração, o estudo da Palavra e o fortalecimento da comunhão com outros crentes. É através da graça de Deus que podemos resistir ao inimigo e experimentar a vitória espiritual em nossas vidas.
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